quarta-feira, 10 de julho de 2013

Entrevista com Laurentino Gomes

Laurentino Gomes
Laurentino Gomes é o autor de “1808” e “1822”,livros de sucesso entre estudantes,que buscam maiores informações sobre história.Eu li o livro e ,particularmente,ele foi de grande auxílio no colégio,pois,quando a professora discutiu o tema em sala de aula,eu já apresentava uma boa ideia sobre a vinda do rei para o Brasil.Porém,vamos à entrevista:

Perfil do autor
Paranaense de Maringá, Laurentino Gomes é quatro vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura com os livros 1808, sobre a fuga da família real portuguesa para o Rio de Janeiro, e 1822, sobre a Independência do Brasil. Somados, os dois livros venderam mais de 1,5 milhão de exemplares e permaneceram cinco anos na lista das obras mais vendidos em Portugal e no Brasil. Sua obra também foi eleita o Melhor Ensaio de 2008 pela Academia Brasileira de Letras. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, tem pós-graduação em Administração na Universidade de São Paulo. É membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e da Academia Paranaense de Letras.Veja abaixo a entrevista na integra: 

Clube do Livro: 1-) De onde veio a inspiração para escrever o livro?

Laurentino Gomes: O livro 1808 nasceu de uma reportagem que eu faria para a revista Veja e que nunca chegou a ser publicada. Em 2007, recebi do diretor da revista, onde eu trabalhava, a missão de preparar uma edição especial sobre 1808 e a vinda da família real portuguesa para o Brasil. Depois de algum tempo, o projeto foi cancelado pela revista e decidi seguir adiante por minha própria conta, publicando um livro assunto. Meu segundo livro, 1822, é uma consequência óbvia e natural do primeiro. É quase impossível entender o processo de independência do Brasil sem estudar o que aconteceu no país nos quatorze anos anteriores. A chegada da corte de D. João ao Rio de Janeiro, em 1808, deu início ao mais profundo e acelerado processo de mudança na história brasileira. No espaço de apenas uma década e meia, a antiga colônia portuguesa, até então isolada, analfabeta e proibida, pavimentou o seu caminho para a independência. O Grito do Ipiranga foi resultado direto da permanência da corte de D. João no Rio de Janeiro, durante a qual o Brasil, entre outros benefícios, foi promovido ao status de Reino Unido com Portugal. Portanto, pode-se dizer que 1822 é uma continuação da história iniciada em 1808. É como se fosse um mesmo livro em dois volumes.

Clube do Livro: 2 -) Segundo o "Guia do Estudante",seu livro " 1808" é recomendado para complementar os estudos relacionados à História do Brasil.Na sua opinião,qual a importância disto?

Laurentino Gomes: Nunca imaginei que livros de História do Brasil pudessem ter uma repercussão tão grande.  Ainda hoje me surpreendo com a reação dos leitores. Eles me enviam dezenas de mensagens todos os dias, sugerem temas para novos livros, pedem que eu não pare de escrever. Fico muito feliz ao observar esse tipo de reação ao meu trabalho, especialmente quando vem de estudantes adolescentes que estão descobrindo o prazer de estudar História. É, portanto, uma missão que me cabe, como jornalista e escritor, de ajudar as novas gerações a entender um pouco melhor este nosso Brasil pelo foco da História.

Clube do Livro: 3-) Para elaborar um livro histórico,há a necessidade de muito tempo de estudo e pesquisa. Quanto tempo e quais fontes você utilizou em seus livros?

Laurentino Gomes: Minha contribuição ao estudo da História do Brasil é de linguagem. Na pesquisa dos meus livros, eu uso a técnica da reportagem, mas tomo sempre como referência as fontes acadêmicas autorizadas. Leio centenas de livros e outras fontes de referências, como cartas e documentos oficiais. Também visito os locais em que as coisas aconteceram para observar como estão hoje. Procuro observar os acontecimentos e personagens sob a ótima do jornalismo. O texto é sempre construído com base nas lições que a literatura ensina para capturar e encantar os leitores. Portanto, minha fórmula combina jornalismo e literatura. Um bom escritor precisa ter a habilidade de escolher as palavras para contar uma estória ou transmitir uma ideia. Procuro usar elementos pitorescos da história para atrair a atenção do leitor. Isso explica, por exemplo, os subtítulos dos dois livros. Esse recurso bem humorado é usado com o propósito de provocar o interesse do leitor, como se faz, por exemplo, num título de capa de revista ou numa manchete de jornal.

Clube do Livro: 4-)Em sua opinião, como a popularização da história do Brasil, através de livros coo 1808 e 1822 pode ajudar no desenvolvimento cultural da população?

Laurentino Gomes: Conhecer História ajuda a entender o Brasil de hoje. Uma sociedade que não estuda História não consegue entender a si própria porque desconhece as razões que a trouxeram até aqui. E, se não consegue entender a si mesma, provavelmente também não estará preparada para construir o futuro de forma organizada e estrutura. Para compreender o Brasil de hoje é importante ler e refletir, por exemplo, sobre a vinda da corte de D. João para o Rio de Janeiro e a influência decisiva que esse acontecimento teve na Independência em 1822. Quase todas as nossas características nacionais já estavam presentes nessa época, incluindo os nossos defeitos e virtudes – como a corrupção, a promiscuidade entre negócios públicos e privados, mas também a capacidade de manter o território nacional unido e superar dificuldades que, em alguns momentos, pareciam intransponíveis. Por isso, vejo com grande alegria a presença de tantos livros de história nas listas de best-sellers. O estudo de História é fundamental para a construção do Brasil dos nossos sonhos.

 Clube do Livro: 5-) Você trabalha/trabalhou com algo relacionado à história?

Laurentino Gomes: Antes de virar escritor trabalhei como repórter e editor de jornais e revistas por mais de três décadas. No Jornalismo sempre gostei muito da editoria de Geral. É a área das redações menos especializada do que, por exemplo, a de Economia ou a de Política, mas a que permite ao repórter ou a editor tratar de assuntos muito variados. A pauta da editora de Geral é a mais ampla possível. Inclui educação, saúde, ciência, turismo, comportamento, cidades e, é claro, História. Como jornalista, publiquei muitas matérias sobre História. Essa foi sempre a grande paixão paralela na minha vida. Sempre li muito sobre o tema. Em 2007, o que era hobby virou uma atividade profissional depois que decidi lançar o livro 2008. Isso mudou profundamente a minha vida. E estou muito feliz com essa mudança.

Clube do livro: 6-) Como é trabalhar como escritor?

Laurentino Gomes:
 Para mim é uma grande honra ser um escritor reconhecido no Brasil. Ainda hoje me surpreendo com a reação dos leitores. Recebo dezenas de e-mails quase que diariamente, na qual eles fazem comentários sobre o meu trabalho, sugerem temas para futuros livros e, principalmente, pedem que eu não pare de escrever. Sou um escritor que gosta de “botar o pé na estrada”, visitar livrarias, fazer sessões de autógrafos, participar de feiras literárias, dar aulas e palestras em escolas e outras instituições. Desde o lançamento do 1808 já percorri cerca de 150 cidades e visitei praticamente todos os Estados – alguns deles várias vezes. Já devo ter dado mais de dez mil autógrafos em centenas de eventos em todas as regiões do Brasil. Mas nada se compara ao contato com estudantes crianças e adolescentes, que geralmente ocorre quando sou convidado para dar aulas ou palestras em escolas. Saio sempre renovado desses encontros. Eles me levam para autografar aqueles cadernos ilustrados com abelhinhas, ursinhos e coisas parecidas. Pedem que eu escreva nos seus cadernos de lição de casa. Pedem para tirar fotos com o celular e, em seguida, colocam no Facebook e no Twitter. Alguns viram meus amigos virtuais e passam a divulgar nas redes sociais a minha agenda de eventos. E também me dizem coisas curiosas, como, “antes eu não gostava de História, mas por sua causa passei a gostar”. Ou, então, revelam que, depois de ler os meus livros, decidiram ser historiadores, jornalistas ou escritores. Nessas ocasiões eu percebo que o meu trabalho tem um impacto decisivo em decisões que essa garotada está tomando na vida. E isso me gratifica muito.

Clube do Livro: 7-) Você pretende lançar algum outro livro em 2013?

Laurentino Gomes: Atualmente estou morando nos Estados Unidos, às voltas com a pesquisa desse próximo livro, 1889, sobre os anos finais do Segundo Reinado e a Proclamação da República. O plano é lança-lo em 2013, provavelmente em setembro durante a Bienal Internacional do Rio de Janeiro. Essa é uma ideia que foi ganhando corpo desde o lançamento do meu primeiro livro. O objetivo é fechar uma trilogia com datas que explicam a construção do Brasil durante o século XIX, ou seja, 1808, ano chegada da corte de D. João ao Rio de Janeiro, depois 1822, data da Independência, e por fim 1889, que marca da proclamação da República. O estudo dessas três datas é fundamental para entender o Brasil de hoje. Pretendo também me manter fiel à fórmula que consagrou as duas obras anteriores, ou seja, pesquisa profundada aliada a uma linguagem jornalística acessível, fácil de entender. Ninguém precisa sofrer para estudar História do Brasil.

Clube do livro: 8-) Em sua opinião, os livros modificarão o Brasil?

Laurentino Gomes: Livros são instrumentos de grande transformação, mas no Brasil ainda temos vários obstáculos a superar nessa área. O primeiro está obviamente relacionado à herança familiar, ao nível de escolaridade e de renda. O brasileiro lê pouco porque frequentou a escola menos do que deveria e também porque, em geral, nunca viu pai e mãe com um livro nas mãos quando era criança. O hábito da leitura nasce primeiro em casa e, depois, na escola. São esses os alicerces formadores de um país de leitores. Além disso, livro no Brasil, apesar de todos os esforços feitos em programas governamentais junto com o mercado editorial, ainda é um objeto caro comparado, por exemplo, com o preço praticado na Europa ou nos Estados Unidos. O preço alto é resultado de um problema de escala. Editores e livreiros não conseguem praticar preços melhores com volumes de tiragens tão reduzidos. Os programas governamentais de distribuição de livros nas escolas ajudam a formar futuros leitores, mas não resolvem o problema do mercado de interesse geral neste momento. Além disso, precisamos levar em conta as mudanças na tecnologia. Os jovens estão trocando os livros, revistas e jornais em papel por outros meios digitais de informação, cultura e entretenimento. Poucas atividades humanas tem sofrido impacto tão profundo das novas tecnologias quando o mercado editorial. Mas acho também que precisamos ter um pouco de paciência. Os níveis de escolaridade e renda vem aumentando no Brasil de forma significativa. Novos formatos digitais, como os e-books e os e-readers, começam oferecer opções atraentes e até mais baratas ao livro em papel. Tudo isso, no longo prazo, certamente terá impacto positivo nos índices de leitura

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